sábado, abril 19, 2008

Comunicação e Internet na Diocese: que possibilidades?

Este título abre-nos o pensamento para a realidade que “explode” todos os dias à nossa frente com novidades sempre incapazes de ser desfrutadas na sua totalidade, mesmo pelos espíritos mais ávidos do saber. Na verdade, como dizia McLuhan, o meio já é conteúdo. Concordo com ele só em parte, advertindo, pois, que, sendo os média extensão da pessoa humana, não podemos encerrar a nossa atenção nos meios, mas, através deles, receber e transmitir os conteúdos que dão corpo a uma mensagem de que a Igreja é chamada a ser fielmente receptora e emissora ao mesmo tempo.
No entanto, a recepção e a transmissão de uma mensagem não é uma actividade abstracta, mas concretizada no tempo, como o foi outrora através dos meios presentes em cada época da história. Por isso, partindo da convicção que não se pode desenvolver uma nova evangelização sem uma nova inculturação, o grupo daqueles que formam a Igreja precisam também de se “converter” aos meios de comunicação, para que se possam converter à mensagem. Essa conversão implica aquilo que Santo Inácio de Loyola postulava, ao responder à objecção do P. Alvarez, que o rebatia diante do uso dos bens materiais como sendo um «ajoelhar-se diante do deus Baal» com um «espírito humano e baixo», replicando: «usar os meios humanos para fins bons e agradáveis a Nosso Senhor não é idolatria. Quem de facto não se serve das indústrias humanas, juntamente com as graças sobrenaturais, ainda não aprendeu a ordenar todas as coisas para a maior glória de Deus e a usufruir dessas para o fim último» (MI Epp II, 481). Idolatria é, pois, pôr o fundamento de tudo nos meios, em vez de em Deus que, com toda a sua solicitude, nos dispõe os dons espirituais e corporais necessários para alcançarmos aquele fim último da Salvação. Na verdade, Ele é o comunicador por excelência, tendo através da história usado os meios humanos e materiais/simbólicos necessários para que a humanidade percebesse os desígnios do seu amor. Por último, resolveu utilizar o melhor meio, o Seu Filho incarnado, para comunicar com mais clareza, e de uma vez por todas, a sua salvação.
Depois desta pequena “catequese” sobre os meios de comunicação, poderei, sim, partilhar o sonho que teima em pôr-se em prática, já não como hobby individual, mas como estratégia de conjunto, que tem a sua dependência directa no Secretariado Diocesano das Comunicações Sociais, a par de outras dimensões da comunicação.
Antes de falar concretamente da Internet, chamo a atenção do leitor para a necessidade jamais discutida do simples telefone e, agora, do imprescindível telemóvel, para a simples comunicação oral entre as pessoas. A comunicação, hoje, é uma realidade que está muito para além da oralidade, envolvendo toda a pessoa com a leitura de textos, a contemplação de imagens, a audição de sons, num cruzar de motivações diversas, como a formação/informação, a oração, o trabalho, a relação com os outros, o lazer, etc. Ser sem fronteiras é a sua ambição misteriosa que, contudo, deve ser controlada, assumindo somente os benefícios da globalização.
Falando, concretamente, no âmbito de uma Diocese, a Internet pode possibilitar dois tipos de comunicação que derivam das duas de três vertentes pastorais: uma (in)formativa (evangelização), outra organizativa (o “governo” da caridade). A Celebração da Fé, na Liturgia, não carece, como sabemos e experimentamos, destas virtualidades (embora a sua pastoral preparatória o reclame!). No entanto, a nível pastoral, a Internet em concreto e os meios de comunicação em geral, poderão facilitar aquela a que Santo Inácio de Loyola chamava de discreta caritas, aconselhando com esta expressão latina a não se fazer nada pastoralmente que seja “às cegas”, sem planificação. Eu acrescentaria: nada projectar pastoralmente sem reflexão e acção de conjunto. Ninguém está para se anunciar a si mesmo, mas para servir de “meio” feliz e autêntico ao desígnio já acima assinalado. A pastoral e a vida em Igreja, especialmente a nível diocesano, exigem cada vez mais a conjugação do binómio amor (caritas) e discernimento (discretio). Aumentam o número de utilizadores dos média convictos de que só a comunicação, não “entre máquinas” mas entre pessoas que as saibam usar poderá, facilitar aquela conjugação. Ponhamos todos os meios possíveis ao serviço dessa convicção!
Assim, apresentando mais concretamente aquelas duas possibilidades que a Internet pode oferecer à comunicação numa Diocese:
a) Do ponto de vista do governo da diocese [vertente organizativa], que envolve a relação entre pessoas e a burocracia que essa implica, para a credibilidade e para a memória, a tecnologia pode ajudar a disponibilizar o chamado backoffice informático que, com vantagens económicas e constante actualização, poderá oferecer às diversas instituições, à cúria e aos serviços diocesanos e a todas as paróquias uma comunicação de dados eficaz e rápida (malgrado as contingências da mesma técnica em constante evolução). Na realidade, é como se fosse um único escritório ou “cartório” dentro de uma única máquina chamada servidor, a que todos os autorizados (segundo níveis determinados) podem aceder para inserir e adquirir dados diversos, debaixo de uma vigiada segurança.
b) Do ponto de vista (in)formativo [vertente evangelizadora], a Internet pode possibilitar a existência de um portal cada vez mais interactivo, que seja inclusivo de todas as informações que interessam a todos os crentes e não crentes, sem, contudo, anular ou esgotar todos os outros sítios ou meios de (in)formação. Concretamente, um portal deverá conter toda a informação útil no enquadramento da Igreja particular, à qual se possa aceder sem a lentidão dos meios sobrecarregados de informação que pode ser acedido de outros sítios ou outros suportes físicos; ter linkados ou ancorados todos os sítios que são expressão das realidades pastorais de toda a diocese é, também missão desse portal diocesano on-line.
Em suma, resta advertir que só uma rede de pessoas a contribuir com algum tempo e dedicação para uma rede física poderá efectivamente pôr em prática este desafio de comunicar a vida e a fé neste mundo novo, onde a Igreja é chamada a ser um sinal já não só audível, mas também visível, palpável, enfim, actualmente perceptível, credível e eficiente, do amor que Deus quer comunicar à humanidade no seu caminho pela história.
P. António Jorge

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